sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Memória Urbana

Memória urbana do Recife (por Luce Pereira - DP on line)

De mutilação em mutilação, o Recife vai se tornando uma cidade inimiga de sua memória.
Quase 40 anos depois da polêmica derrubada da Igreja dos Martírios, para dar passagem à Avenida Dantas Barreto, a paisagem urbana continua sendo modificada - para muito pior - por interesses políticos, econômicos ou, o que é ainda mais surpreendente, pelo desconhecimento e insensibilidade dos gestores públicos.
Enquanto um casarão e dois outros imóveis que faziam parte da Antiga Casa de Saúde São José, no Poço da Panela (Zona Norte), vinham abaixo para desocupar o terreno - que vai abrigar uma unidade da rede Carrefour - das janelas, moradores pareciam incrédulos com a demolição. Os, digamos, "queixos caídos", se traduziriam, depois, em mensagens de revolta e indignação enviadas para o correio eletrônico da arquiteta Amélia Reynaldo, também moradora do bairro. Não ficou pedra sobre pedra do que antes era o casarão de azulejo português, construído em 1949, e dos outros dois pavilhões, um ano mais novos. A arquiteta é da opinião de que o supermercado seria bem vindo se incorporasse os imóveis ao seu projeto, o que, aliás, é regra no país de origem da rede. Na França, o apreço pelos bens históricos e culturais é tamanho que por muito, mas muito menos mesmo, os franceses fariam o maior escarcéu, matando a ideia no nascedouro.
A desculpa mais amarela que a Diretoria de Controle Urbano e Ambiental (Dircon), da Prefeitura do Recife, poderia dar é que não são imóveis de preservação. No entanto, não teve a menor preocupação em observar o que diz a Lei dos 12 Bairros, criada no governo João Paulo, sobre a necessidade de se harmonizarem as formas de ocupação. O crescimento do Recife continua se dando da forma mais predatória, como se entre os mandatos de Augusto Lucena e de João da Costa não houvesse quase quatro décadas. Há exemplos de sobra no mundo de cidades que precisaram de bem menos tempo para descobrir que civilidade é crescer respeitando o patrimônio histórico e o meio ambiente.





Só pondo um pouco mais de lenha na foqueira, Há diversas construções de prédios modernos no Recife, a exemplo do que fica na esquinsa da Av. Rosa e Silva com Rua Amélia, que ganharam um plus de altura para manter o casarão que, apesar de não ser de preservação, é referência de localização, além de muito agradável aos olhos de quem passa.

E porque arrancar tão violentamente as pedras portuguêsas do calçadão de Boa Viagem? Será que não perceberam que ele ainda estava em bom estado de conservação, precisando apenas de manunteção em alguns poucos trechos?

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