No capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Constituição Brasileira de 1988, no seu parágrafo XIII, afirma que “a propriedade atenderá a sua função Social”.
Mas o que viria a ser essa tal de função Social?
Aproveitando uma definição da sociologia, função social é a contribuição que um fenômeno provê a um sistema maior do que aquele ao qual o próprio fenômeno faz parte.
Assim sendo, moradia, emprego, renda, mobilidade, segurança, educação e lazer são alguns elementos que podem compor a tal função social.
Agora vamos entrar no assunto propriamente dito: O Cais José Estelita é uma área de armazéns da antiga RFFSA para granéis sólidos, Melaço e açúcar, que hoje é uma das áreas mais decadentes do Recife.
Parte de sua finalidade foi anulada quando o extinto IAA, para dar maior agilidade no embarque de Açúcar, Álcool e Melaço, construiu no Porto do Recife o terminal açucareiro.
No final da década de 1980 deixou de ter a função de armazenagem e passou a ser apenas o terminal de manutenção de trens e depósito de sucata de trilhos, dormentes, vagões e outras coisas da ferrovia.
O local, também, um dia foi conhecido por “Raia do Cabanga”, pois ali aconteciam as provas de remo, onde as principais agremiações do Recife competiam. A falta de segurança e a decadência do remo em Pernambuco fizeram com que as provas deixassem de ser realizadas ali.
Em 1993, o Jarbas Vasconcelos, prefeito, tentou dar utilidade aquela que era uma das vias de acesso a Zona Sul da cidade, fazendo a revitalização do cais, com a construção de uma passarela, com visual romântico e a pintura dos armazéns, transformando aquelas paredes abandonadas numa espécie de mosaico colorido. O local ficou tão bonito que passou a ser utilizado como fundo fotográfico para registros pré nupciais e de debutantes.
No entanto, o abandono causado pela falta de utilidade prática e social, levou o local para um outros tipos de encontros. Passou a ser um local frequentado por marginais, prostituição, ponto de consumo de drogas. Em resumo: Um local a ser evitado.
Quero reforçar uma ideia: O visual da bacia do Rio Jordão é um dos mais belos do Recife, principalmente ao por do sol. Mas, o casario é um horror!!!!
A única coisa que nasce ali é mosquito da dengue.
Atualmente um projeto de ocupação daquela área está causando muita polêmica, pela sua arrojada arquitetura e por ser encabeçada por um consórcio de empreiteira, e como todos sabem ser um grupo econômico forte é pecado. Em contraposição a um grupo que deseja que ali seja instalado um parque de convivência, a ser bancado por pelo poder público.
Eu sou favorável a implantação do Projeto conhecido como Novo Recife e vou dizer porque.
O principal problema daquela área se deve ao seu isolamento e o isolamento só será quebrado com a ocupação por pessoas, em moradia e/ou empresas que gerem emprego. Se as duas coisas puderem estar juntas, melhor ainda.
No sentido contrário aos "Alfaville" da vida, há uma tendência mundial para construção de residências próxima dos centros das cidades, isso para driblar o problema de mobilidade e promover a redução no consumo de combustíveis, o que é bom para o ar das cidades e como as pessoas perdem menos tempo dentro dos transportes, passam a ter mais tempo para elas mesmas.
A ocupação proposta para o José Estelita se assemelha ao que foi implantado em Puerto Madero, Buenos Ayres. Aquele local, que tinha muitas semelhanças com o nosso José Estelita, era uma área de antigos galpões portuários, economicamente decadente. Hoje é um dos melhores locais para um bom lazer, concentra um grande número de empregos e tem uma vida noturna fervilhante.
Outra questão, que pra pra mim tem grande relevância, é a origem do dinheiro para a revitalização e seu destino. A máquina pública e lenta, cara a fadada a interferência de pessoas mal intencionadas.
Quase todo mundo que conheço, reclama que os governos municipal, estadual e federal gastam dinheiro no local errado, deviam concentrar os recursos na educação, saúde e segurança, pois grandes obras é uma tentação pra corrupção. Essas mesmas pessoas são as que acham que a prefeitura e o estado deveriam fazer do Cais José Estelita um grande parque…
Quando Jarbas inaugurou o José Estelita, em 1993, sobraram críticas de dinheiro mal usado, cabide de empregos, e a crítica mais interessante de todas: “A prefeitura deveria ter deixado que a iniciativa privada fizesse algo”.
Hoje ao ver os protestos no local e o perfil dos “ativistas”, chego a achar engraçado.
Espero um dia poder utilizar aquele local, que é um dos mais belos da cidade.