Foi assim com os que se autodenominam “conservadores”, sempre defensores de bandeiras como o endurecimento das penas, a redução da maioridade penal e o fim de supostos privilégios para condenados. Bastou, porém, que seus próprios “líderes” fossem alcançados pela Justiça para que dessem uma guinada completa, de 180 graus.
De repente, expressões como “isso é injusto”, “não é proporcional” e “onde ficam os direitos humanitários?” passaram a ser proferidas com olhos arregalados e veias saltadas no pescoço — exatamente por aqueles que, até ontem, desprezavam qualquer discussão sobre garantias legais.
Ao proporem uma lei para reduzir a pena, admitiram implicitamente a existência dos crimes cometidos na tentativa de se perpetuar no poder. O mesmo ocorreu quando limitaram essa redução de penas aos crimes praticados estritamente no 8 de janeiro. Admitiram, sim, que cometeram crimes contra o país: reconheceram a tentativa de obstrução do voto ao criarem barreiras nas estradas; o planejamento para assassinar o presidente eleito, seu vice e o presidente do STF; a organização de acampamentos com o objetivo de pressionar as Forças Armadas a aderirem a um golpe; e a criação deliberada de um cenário de caos em Brasília para forçar a aplicação de uma intervenção.
Como se não bastasse, enviaram representantes aos Estados Unidos para tentar induzir aquele governo a impor sanções ao Brasil, gerando prejuízos ao país, como nas palavras deles mesmos “se houver um cenário de terra arrasada, já estarei vingado”. Agora, posam de vítimas e clamam por piedade, invocando direitos humanos que sempre desprezaram.
Historicamente, o Brasil já foi vítima de ao menos nove tentativas de golpe de Estado, quatro delas frustradas. Em nenhuma dessas ocasiões os responsáveis foram devidamente punidos. Essa impunidade apenas alimentou o impeto dos conservadores a novas investidas ao longo do tempo.
Esta é a primeira vez que vemos os mentores de um golpe sendo efetivamente levados à Justiça e condenados por seus atos. Assistir agora a essa conquista — a responsabilização de quem atentou contra a pátria, seu povo e a democracia — ser desmontada é testemunhar um grave retrocesso. É ver um grupo impor seus valores e interesses a toda uma nação.




