sábado, 9 de março de 2013

Transposição do São Francisco

Estive no sertão, por esses dias, e o cenário é de desolação. 
Animais mortos a beira da estrada ou nos cercados, vitimados pela seca, casas abandonadas por seus habitantes. O chão mais árido que de costume, onde nem o mato brado nasce, onde nem o mandacaru e a palma resistem. 
Vi também a tão prometida (sonhada pelos sertanejos) obra salvadora da transposição do Rio São Francisco, se esfarelar como os torrões de terra da área que ela deveria salvar.
  
Confesso que sou defensor dessa obra. Acredito que esse recurso, bem administrado, será, literalmente, a salvação da lavoura. Tenho conhecimento de projetos para implantação de fazendas de peixes e camarões de água doce, que além de aumentar a oferta de alimentos, gerarão emprego e renda, numa área onde emprego é tão raro quanto água. 

Contudo, o que vi me deixou apreensivo. A maneira como o projeto foi tocado me parece errada. A transposição vem sendo executada em blocos desconexos. Os cálculos da solução de engenharia, são feitos levando em consideração que canal trabalhará cheio. De outra forma, a dilatação das placas de concreto, impostas pelo calor, acarretará em quebra e fissuras, danificando-as em pouco tempo. 

Em alguns pontos, as obras aparentam abandono. Até os canteiros de obras parecem desativados. Mato pra todo lado, sem um operário na lida. As poucas máquinas que restam, quando ainda restam, estão sendo cobertas pelo mato seco. 

Dizem que os trechos foram escolhidos de acordo com a aproximação política do prefeito do município e dos interesses do governo federal, com fins eleitoreiros.


Se a solução adotada fosse a da construção em trechos contíguos, sequenciados a partir do Rio, com o canal sendo ativado a cada trecho pronto, parte de nossa tragédia humana seria amenizada. Porque se, segundo o Ministério da Integração Nacional, 40% das obras já estão prontas, teríamos a mesma proporção de área atendida pelas águas do Velho Chico, dando condição ao povo de plantar, colher e alimentar o gado.

Os especialistas do EMATER e do Ministério da Agricultura, preveem que, se as chuvas se regularizarem, levaremos de 6 a 10 anos para recompor a área plantada e os rebanhos da região.