sábado, 24 de outubro de 2015

O que foi que eu fiz?

Comumente nos deparamos com situações as quais não compreendemos porque continuam assim.
Os tempos mudaram, mas, certos costumes não mudam.

Certa feita fui a casa de um amigo para ajudá-lo com um problema em sua rede. Naquele tempo as redes de computadores eram feitas com cabo e por isso mesmo levei minha maleta de ferramentas.  
Ao chegar no prédio, o porteiro interfonou para o apartamento e me indicou o elevador de serviço, para que eu não esbarrasse com um morador.   Ri, dizendo:  "Não estou aqui como um trabalhador, mas um convidado. Porém, para não lhe causar algum inconveniente vou por lá mesmo.... Só pra não pô-lo numa saia justa".   Preferi me acomodar. 

Noutro momento, Ao estacionar meu carro numa rua, em frente a um salão de beleza, e a proprietária saiu de lá nas carreiras dizendo dizendo em voz alta e intimidadora: "O senho não pode estacionar ai. Esta vaga é reservada para clientes do salão!". Comecei um dialogo com ela: Senhora, a rua é pública e, sendo pública, está a disposição de qualquer pessoa e não apenas seus clientes". 
Grosseiramente ela respondeu: Mas, se seu carro aparecer arranhado eu não tenho nada com isso.
Por sorte minha ( e põe sorte nisso ) ia passando uma viatura da Polícia Militar. Eu pedi para que parasse e perguntei ao oficial:  
- As vagas de estacionamento desta rua são reservadas?
- Não, cidadão.   Porque a pergunta?
- Esta senhora esta dizendo que as vagas são reservadas para os clientes dela e se eu colocar o carro aqui ele poderá aparecer arranhado.  Eu entendi isso como uma ameaça.
- Senhor,  Estacione o carro no local que quiser e se acontecer alguma coisa, nos procure no posto da PM, pois já estamos cientes da ameaça e tomaremos as medidas necessárias. 
Agradeci a interferência e eles seguiram para o posto, que ficava a uns 200 m.
A dona do salão ficou assustada, "Não devia ter chamado a polícia.  Nós resolveríamos de outra maneira....".   
Como de outra maneira?  A senhora já havia ameaçado de arranhar o carro!  Comecei a fotografar o carro com ela junto.  E encerrei a conversa: Espero não ter que tomar outras providências e que possamos ter uma convivência civilizada. Boa noite.
Neste caso resolvi enfrentar 

O tema central de nossa conversa deveria ser "Porque certas coisas não mudam" mas, ele se resume na pergunta "O que foi que eu fiz para mudar as coisas?"

Digo para nossa reflexão  que é muito conveniente para nós evitar o envolvimento, principalmente quando o fato não nos atinge. E mesmo quando nos envolve, procuramos uma outra saída que não o enfrentamento do problema, evitando desgastes pessoais e ficar na berlinda e sem envolver terceiros. Mas isso não ajuda a mudar as coisas.
Porém, ao tomar as rédeas da situação, podemos não resolver, mas, plantamos a semente da mudança.








segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Aniversário.

Um imperador, curioso com a cor da barba e cabelo de seu conselheiro, perguntou-lhe:

- Quantos anos tens?

- Senhor, tenho todas as idades de minha vida...
Tenho a idade de quando era recém nascido, pois a fragilidade da vida nos acompanha...
Tenho as idades de minha infância, pois ainda me encanto com as coisas simples e com a alegria verdadeira...
Tenho, também, as idades de minha juventude, na vontade insistente de aprender tudo e conhecer todos.
Guardo ainda as idades de minha vida adulta, na capacidade de me apaixonar e me desiludir.
Vivo intensamente as idades de minha velhice, quando diante de tudo o que aprendi, reconheço o que pode dar certo ou errado...
Todas elas pois as guardo em minhas memórias...
Mas, na verdade, tenho os anos que me restam e farei eles valerem a pena.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Carta ao meu passado

Comecei esse texto em 2012, mas por diversas razões fui adiando sua conclusão e modificando-o tão profundamente que era o mesmo que escrever algo completamente novo. Porém, a ideia central foi sempre a mesma: Escrever para mim mesmo trinta e cinco anos atrás, tentando me dar conselhos que certamente eu não ouviria.

E ai, André? Quanto tempo!
Você pode até não acreditar, mas você sou eu ontem, a trinta e cinco anos atrás.
Sei que pode parecer loucura, mas acredite, essa carta voltou no tempo pra te contar algumas coisas e te pedir outras.
Em 1977, eu tinha vinte anos, ou melhor você tem vinte anos. Vinte anos é uma idade mágica. Aos vinte, agimos como super heróis, imortais, invencíveis e intocáveis. Achamos que podemos tudo, que somos adultos e donos de nosso destino, desconhecemos limitações e afrontamos qualquer forma de autoridade, afinal de contas, nesta idade somos donos da verdade, temos a certeza mais idiota do mundo que sabemos de tudo. Contudo, ainda vivemos como adolescentes, com pouca ou nenhuma responsabilidade e convivemos com uma insegurança, que negamos ter. Vai por mim, cara. Nessa idade, estamos prontos para começar a aprender a viver. Nessa idade estamos aptos para fazer as escolhas erradas.
Não espere que quando você tiver minha idade fará tudo certo. Independentemente da idade que tivermos, continuaremos sendo humanos falhos, loucos para fazer a coisa certa. Mas, aprendemos a valorizar o erro como um aprendizado. Entendemos que errar é natural.
Hoje, aos 55 anos, me sinto, e você se sentirá, fazendo vestibular para a melhor idade. Com muitas responsabilidades, ponderando a maior parte de nossas atitudes. Com uma cabeça “ótima” mas com um corpo já cheio de limites, que insistimos em ignorar.
Juro por tudo que me bateu uma dúvida: Se nós somos um só, somos (quase) a mesma pessoa, separadas pelo tempo, devo falar de nós no singular ou no plural? Somos quase o mesmo pois muitas das nossas certezas serão descartadas, mas, muito da nossa essência permanecerá.
Em 1977, gastávamos mais tempo nos divertindo que planejando o futuro e cuidando da saúde. E hoje, 35 anos depois, eu sou prova viva que o nosso mundo não acabaria naquele instante. Hoje, passamos mais tempo tentando reverter os efeitos daquela época pra tentar ter um pouco mais de futuro.
Não se assuste com o que vou dizer, pois não é intenção minha causar-lhe receio das experiências de vida, mas, os dissabores, as decepções e os erros serão meu presente (ou seu futuro), quanto as alegrias e acertos. Eles serão o concreto mais forte para a edificação de nossa personalidade.
Vamos nos decepcionar com muitas pessoas, mas isso nos fará entender que este sentimento não está no outro, mas em nós mesmos, nas expectativas que geramos, naquilo que idealizamos e não no que recebemos.
Peço que dê mais atenção a nossa mãe, pois, nem as mães são para sempre. Passei mais com ela, viaje mais, vá, com ela, assistir mais shows, ela ama a Orquestra Sinfônica do Recife. Assista mais filmes com ela, mesmo sabendo que ela adora filme de ação e nós de humor. Isso deixará a parede de nossas lembranças mais decoradas e é a melhor maneira de lhe prestar uma homenagem.
Muitas pessoas passam por nossa vida, mas poucos ficam. Esses poucos são os amigos. Deixe o tempo filtrar quem deve ficar. Os amigos, os verdadeiros amigos, ficarão, apesar de nossa franqueza, as vezes rude. 
Agora, não perca a oportunidade de dizer-lhes o quanto são importantes para nós. Pois, em dados momentos de nossa vida não estaremos tão próximos deles e mesmo assim eles precisarão de nós e nós deles. E quando se está mal, um dos melhores remédios é saber que alguém acredita e confia em nós e que faria de tudo para estarmos bem.
O tempo cuidará de nos afastar de quem gostamos. Mas, se encarregará de nos apresentar gente nova, com ideias novas, que nos fará refletir sobre nossos valores. E, novamente, nos afastará, seguindo um longo ciclo de chegadas e partidas. E essas idas e vindas te mostrará como é prazeroso o REver, REencontrar, REsgatar, REaproximar, REviver... 
Olha, tenha cuidado com o nosso humor. Vamos magoar pessoas importantes para nós e isso nos deixará triste. Eles levarão muito tempo para entender que nosso humor é a maneira que temos de dizer nossa verdade e não era nossa intenção ferir ou magoar. A ironia muitas vezes é uma faca afiada.
Não vou te contar o que foi bom nem o que foi ruim nesses 35 anos que nos separam. Você terá que descobrir sozinho. Contudo, garanto que o caminho percorrido é o que me levou a te (me) procurar. Não sei se percorrendo outro caminho estaria mais ou menos feliz que estou (estamos) hoje. Mas com toda certeza sou (somos) feliz(es)… E isso é o que importa. 

Obrigado por me transformar no que somos.