quinta-feira, 30 de julho de 2009

Invisibilidade social e tribos urbanas


Dessa vez vou fazer diferente. Começarei nossa conversa contado uma piada.
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Dois leões fugiram de um circo que se apresentava em Brasília. Na fuga um foi para o mato e o outro se escondeu numa repartição pública.
Quatro semanas após os dois foram recapturados.
Ao serem colocados na jaula, os dois se colocam de frente um ao outro.
O que fugiu para o mato estava magro, doente, fraco e estressado. O outro estava gordo, com pelo vistoso, bem descansado.
O que estava bem perguntou ao outro: O que aconteceu com você, meu amigo?
- Fugi para a mata. Lá na mata tive que fugir dos lenhadores clandestinos, dos refinadores de drogas e dos grupos de extermínio que iam desovar seus desapreços. Na mata não tem mais nada para caçar... Os rios estão poluídos...
Resultado fiquei tão fraco que não tive como fugir.
- E com você o que aconteceu?
- Eu fugi para uma repartição pública. Não precisava nem me esforçar para caçar. Lá tem um batendo no outro e ninguém se fala.
Um dia comia um assessor, noutro um coordenador, no final da tarde lanchava um estagiário... e como as pessoas não se importam com os outros, nem sabem que os outrso existem, não se sabia se o “colega” havia faltado ou está voando.
- E como é que você foi preso?
- Cometi um grave erro... Comi a mulher do cafezinho!
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Hoje dois assuntos e entrelaçam: as profissões (e as pessoas) invisíveis e as tribos sociais.

O psicólogo Fernando Braga da Costa, durante 8 semanas vestiu um uniforme de gari e varreu as ruas de São Paulo para concluir sua tese de mestrado sobre invisibilidade pública. Nas ruas, onde colocava em prática sua teoria, foi ignorado por colegas de profissão, professores, alunos e muitas outras pessoas, sentindo na pele o que é ser tratado como um objeto e não um ser humano, só porque vestia um uniforme de gari.
Ele constatou que um simples “bom dia”, dados aos “invisíveis”, lhes dão a noção existência. Percebeu, também, que o trabalho silencioso deles nada mais é que uma defesa contra a indiferença dos circulantes.
O seu trabalho também constatou que:
• Toda ação repetida gera um hábito;
• Todo hábito muda o caráter e;
• A mudança de caráter muda o sentido de existência;

O professor da UFSE, Marcus Eugênio, defende a existência de, pelo menos duas, teorias que explicam as causas da invisibilidade social. Numa, as pessoas estariam tão familiarizadas com o ambiente que ele não produziria qualquer tipo de estímulo a elas. Essa teoria iguala as pessoas aos objetos do ambiente, principalmente aquelas pessoas com quem não interagimos.

Noutra teoria, a banalização do ser humano e está atrelada a despersonalização que os indivíduos sofrem em certas profissões como também na hierarquia social.

Os estudos desses dois profissionais inferem que as relações interpessoais estão ficando embrutecidas e que pessoas só exercitam o relacionamento pessoal com aqueles que participam de seu grupo social ou para satisfazer uma necessidade.

Esse fenômeno é quase que uma característica das grandes cidades onde o medo da violência e a busca pelas luzes do sucesso criam ilhas de isolamento.
Naquelas cidadezinhas de interior onde as relações não se baseiam em interesses pessoais, onde as pessoas são bem mais cooperativas e prestativas, onde as pessoas ainda cultivam colocar cadeiras nas calçadas e por em dia os assuntos, vemos que as pessoas se tratam como pessoas e não se importando com o que ela faz ou a que categoria, grupo ou tribo urbana ela pertence.



André Maia

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